sábado, 29 de agosto de 2015

Sem açúcar

Aceitei tão rápido que “decisão irrefletida” não seria uma expressão inadequada, exceto pelo fato de ter um tom negativo. É como se alguém tivesse perguntado: “café”? SIM, por favor! O meu, sem açúcar. J

Pois foi assim: “Topa”? “CLARO”. Na hora, nem sabia se era um emprego ou uma função não-remunerada, nem quis saber. Coordenadoria de políticas LGBT? SIM!

Tão rápido que só depois pensei nos efeitos imediatos na minha vida – o maior deles, a perda da liberdade. De ir e vir, basicamente. Nos últimos anos, vivendo de prestação de serviços, meus trabalhos em geral tinham o horário que eu escolhia. Podia escrever uma coluna antes das sete da manhã e reservar a tarde para correr mundo, correr perigo. Desde janeiro de 2013 trabalho de maneira organizada com moradores de rua e de favelas, em uma associação chamada CASA Bodisatva, da qual sou uma das fundadoras.

Antes, eu andava por aí sozinha e na louca (“louca” é quase meu “vulgo”, como dizem nas quebradas), fazendo amizades-relâmpago, ajudando aqui e ali como podia. Sentava na escadaria da Sé, ouvia uma história, ensinava a escrever o nome, via fotos da família. Pagava um almoço com a condição de que o homem sentasse comigo na mesa (missão das mais difíceis, dificilmente a pessoa aceitava, com vergonha da própria aparência e pouca disposição para aguentar olhares de reprovação). Acompanhava à delegacia para fazer um B.O. de agressão, ajudava a atravessar a rua. Agora somos um pequeno bando de loucas fazendo amizades mais duradouras e ajudando como podemos.

Essa “moleza” acabou rs. Restarão as incursões de madrugada – PSs da Santa Casa e da Barra Funda estariam entre os meus “top five” no Four Square. Vou sentir falta dessa liberdade vespertina.
Quando contei para meus amigos de um grupo no zap (“Encontro PPS Diversidade”), avisei: “Tenho uma notícia muito boa, eu acho, mas talvez eu tome um pau”. Talvez eles fossem os primeiros a desaprovar – uma cis e hétero? Mas eles acharam excelente, ufa. Ainda assim, me preocupava a reação da Dani Andrade rs. Ela é uma das minhas “gurus” no assunto trans – depois de anos de militância achei que já conhecia bastante o assunto, até participar com ela de uma roda de conversa e descobrir que não sabia da missa um terço (sem provocação religiosa rs). Que bom que ela não achou ruim rsrs.

O trabalho da Coordenadoria, que antes ficava “abrigada” na Secretaria Estadual de Justiça e dos Direitos da Cidadania, é excelente. Entrem no site e vejam... O motivo da mudança de Coordenação é a ampliação do escopo da atuação, com uma agenda mais política – isto é, de mais inserção, negociação, persuasão, proatividade. “Intromissão”, diriam alguns rsrs. É bater à porta (sou sempre educada e só meto o pé na dita cuja se ela não abrir de outro jeito) de Educação, Saúde, Assistência Social, Segurança Pública, Desenvolvimento e Trabalho,Esporte, Turismo, tudo.  A Coordenadoria JÁ FAZ isso, por exemplo por meio do Comitê Intersecretarial de Defesa da Diversidade Sexual (vejam o relatório de atividades de 2014: é excelentehttp://www.justica.sp.gov.br/StaticFiles/SJDC/ArquivosComuns/ProgramasProjetos/CPDS/Informe_2014.pdf). Uma das notícias mais recentes no site é “Inscrições abertas para curso de extensão sobre cidadania LGBT para servidores do SUS”http://www.justica.sp.gov.br/portal/site/SJDC/menuitem.faf43bacbf6b0a38c5423376390f8ca0/?vgnextoid=8e3f00edb162d410VgnVCM1000004974c80aRCRD&vgnextchannel=be320195a1d70410VgnVCM10000093f0c80aRCRD&vgnextfmt=CPDS

A Heloisa, a quem vou suceder, é f., foi bem pra cacA ideia é fazer mpais ainda, com mais... visibilidade, essa palavra que nos é tão cara. E eu sou muito visível rsrs (i.e. manjada, carimbada, saliente)Então por isso aceitei sem piscar o café. Sem açúcar.

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